domingo, 8 de maio de 2011

Balanço do primeiro semestre

Sei que qualquer coisa que seja escrita hoje sobre a atuação dos dois times gaúchos na Copa Libertadores vai parecer oportunismo. Entendo também que a proximidade com os jogos fatídicos, é difícil ser completamente racional ao fazer uma análise sobre o rendimento da dupla GreNal no ano até agora. Mas vou correr o risco e me juntar a todas as pessoas que vêm criticando os dois maiores clubes do Rio Grande do Sul neste ano.

Antes de começar, preciso confessar: sou gremista. Mas antes de vocês pensarem qualquer coisa: não vou tirar sarro dos colorados, nem ser clubista. Entendo que é preciso analisar os rumos do futebol gaúcho como um todo nesse momento, para que se possa repensar o que nossos dirigentes vêm fazendo nos últimos meses.

Vou iniciar esta divagação pelo Internacional, já que foi o primeiro clube a ser eliminado nesta noite (hah! Desculpem, não pude evitar).

Todo o drama vermelho começou no ano passado. Após ganhar a Libertadores, o técnico Celso Roth, em conjunto com a direção colorada, decidiu abandonar o Campeonato Brasileiro em nome de uma suposta preparação para o campeonato mundial. O time principal ficou sem ritmo e os reservas pouco puderam fazer para representar dignamente o tamanho do clube portoalegrense no certame nacional. Não bastasse isso, o Internacional conseguiu perder para o inexpressivo TP Mazembe, inscrevendo-se na história do futebol como primeiro time sul americano a não chegar na final do Mundial.

Mesmo com a derrota, a direção optou por renovar o contrato de Celso Roth. O ano começa e os reforços são escassos. Novamente priorizando uma única competição, o Inter partiu para disputar o Gauchão com o time B. E mais uma vez, o óbvio aconteceu: o fracasso. Já o time principal do Colorado continuava apresentando as mesmas dificuldades do ano anterior: um futebol lento, apático, defensivista. Seu centroavante virava um autêntico Robinson Crusoé. O desempenho do clube na primeira fase da Libertadores foi fraco, apesar da tranqüila classificação em primeiro lugar, e incluiu um empate com o pífio Emelec e uma derrota frente ao fraco Jaguares do México.

A partir desta derrota a direção pareceu ter uma súbita epifanía: Roth precisava ir embora. Demitido o treinador, vem a questão: quem contratar? Seguindo o exemplo do rival, os cartolas colorados resolveram trazer um ídolo do clube para comandar seu time. Falcão, cuja carreira de técnico foi inexpressiva, para dizer o mínimo, foi trazido de volta à beira do gramado, abandonando seu cargo de comentarista da Rede Globo.

Ora, gostem ou não de Renato Portaluppi, ele estava treinando, habituado à rotina de treinador. Contratar Falcão, por outro lado, significou arriscar tudo. Arriscar tudo para jogar pra torcida. Ele representaria um futebol clássico, ofensivo e de qualidade.

Seu começo foi moderadamente elogiado pela crônica gaúcha. Eu, porém, mantive minhas ressalvas. Logo pôde se detectar em Falcão um problema semelhante de Roth: Leandro Damião, apesar da boa fase, voltou a ficar isolado. Sobis, mesmo sem jogar bem, foi sacado do time em nome de Oscar, garoto (supostamente) promissor, mas que é meia de ofício.

No jogo do Uruguai, o Inter não jogou rigorosamente nada. Tomou sufoco de um Peñarol de qualidade limitada e não fosse pelo gol salvador de Damião, teria se complicado. A partir do 1x1 fora de casa, as perspectivas para a classificação pareciam boas. Mas só pareciam.

O salto alto, grande problema do jogo contra o Mazembe, resolveu aparecer novamente. O time fez um gol com Oscar logo no primeiro minuto de jogo e tudo corria bem, ou nem tanto. Ainda no primeiro tempo, o Peñarol teve oportunidades de empatar o placar. Já na segunda etapa, o que parecia um jogo tranqüilo virou uma tragédia grega: em 45 segundos, os uruguaios empataram. Após o gol, cenas do mundial se repetiram. O time sofreu um apagão, ficou apático, perdido em campo. Minutos depois, sai o segundo gol adversário e o Inter cai por terra. No desespero, o time conseguiu criar algumas boas oportunidades, mas não teve calma para finalizar.

Essa incapacidade de se concentrar adequadamente em jogos importantes tem sido uma característica recorrente e preocupante para os torcedores colorados, bem como a inconstância de alguns jogadores do meio para frente. As más opções ofensivas de seus treinadores, tanto Roth quanto Falcão, também devem ser lembradas aqui.

O setor defensivo merece um parágrafo à parte. Já faz tempo que a defesa do Inter não se acerta. Durante todo o ano passado, isso ficou claro. Índio já é um ex-jogador, deveria se aposentar. Bolívar está numa forma “menos pior”, mas não digna do futebol que já apresentou. Sorondo continua permanentemente no departamento médico. Os jovens e promissores zagueiros do plantel não recebem chances. Rodrigo tem sido a única esperança de melhoras.

As contratações do Internacional neste ano me pareceram equivocadas, exceção feita a Mario Bolatti. Zé Roberto, dizem por aí, é cachaceiro e não tem jogado grandes coisas. Cavenaghi fez apenas um gol até agora, embora não tenha recebido tantas oportunidades. Preocupante, não é mesmo?

É de se perguntar o que os diretores do clube fazem com todo o dinheiro que vêm arrecadando nos últimos anos. Sabemos que as contas do Internacional estão quase todas pagas, que o clube tem vendido muito bem seus jogadores. Afinal, onde estará indo toda essa grana?

Em más contratações, em contratos ruins e más escolhas. O plantel do Internacional está inchado, bem como sua folha de pagamento. O clube faz diversos contratos longos com vários jogadores, o que até é certo em alguns casos. O problema do Inter é que a maior parte dos atletas em questão são ruins.

Fazer uma reformulação em todo o elenco colorado é necessário. Dispensar estes jogadores que estão encostados é o primeiro passo, na minha visão. A partir daí, mandar embora pernas-de-pau como Glaydson e Wilson Matias. Livrar-se dos medalhões que já estão acomodados, caso de Índio, Bolívar, Kléber, Guiñazu, D’Alessandro e Rafael Sóbis.

Pode ser que mexer tanto no grupo seja prejudicial a curto prazo, mas entendo que se formos fazer uma projeção mais longa, isso é a coisa mais certa a se fazer. Introduzir jovens valores que estejam motivados neste plantel seria o início de um novo ciclo vencedor para o clube da Beira-Rio.

Bom, muito já falei sobre o Internacional. Agora vamos ao que realmente interessa: O Grêmio (hah! Não pude evitar novamente).

O drama tricolor vem de muito antes que o do colorado. Desde que as gestões de Obino e Guerreiro assumiram o clube, as coisas só pioraram. Todo o trabalho realizado ao longo dos anos 80 e 90 foi jogado no lixo por dois picaretas que deveriam ter vergonha de dizer que são gremistas.

Com dívidas imensas criadas nesta época, o começo dos anos 2000, o Grêmio ensaiou a queda pra segunda divisão no ano do centenário e no ano seguinte, se foi de fato. Na época, Paulo Odone teve muita coragem ao assumir a presidência de um clube falido e praticamente sem jogadores.

Nessa passagem, o saldo do deputado Odone foi positivo. Vencemos a segundona na épica Batalha dos Aflitos, fomos bicampões estaduais e chegamos ao vice-campeonato da Libertadores com um time bem modesto. Conseguimos pagar um pouco as contas, dar uma organizada na casa. Com o trabalho de Rodrigo Caetano à frente das categorias de base, conseguimos revelar alguns bons valores e gerar algum lucro pro clube. No geral, tudo correu razoavelmente bem, apesar de vários erros e precipitações menores.

Terminada a gestão de Odone, Duda Kroeff assumiu a presidência. Uma série de erros marcaram a estada de Duda à frente do Grêmio. Além de algumas contratações infelizes, houve o caso da espera por Paulo Autuori. 2009 foi um ano que eu gostaria de esquecer, em termos de futebol.

O ano de 2010 começou melhor, promissor. Silas vinha com o respaldo de uma boa campanha com o Avaí. Porém, após a indigesta eliminação para o Santos na Copa do Brasil, o time começou a desandar. Silas perdeu o controle sobre o grupo e já não conseguia mais organizar a equipe. O maior erro da direção nessa época foi não tê-lo demitido antes da parada pra Copa. Infelizmente, se continuou insistindo com o trabalho já decadente de Silas.

Quando o referido treinador foi pra rua, fiquei na expectativa pra ver quem iam contratar. Seguindo a recomendação do saudoso Fábio Koff, Duda trouxe o Renato. Eu tive muitas restrições à contratação dele. Os trabalhos anteriores do Renato não me deixavam empolgado. Além disso, nunca fui muito afeito à idéia de ter um ídolo treinando o time.

Renato teve um começo modesto, mas logo foi dando uma cara ofensiva à equipe. Aos poucos, ele fez o que ninguém mais acreditava: colocou o Grêmio na Libertadores. Junto com o trabalho do diretor de futebol Alberto Guerra, o clube trouxe alguns desconhecidos que deram muito certo na época, bem como o lateral direito Gabriel, que chegou voando em campo, e André Lima, centroavante que encaixou no time. O grupo era limitado e sabíamos que Renato havia feito mágica, tirado tudo o que podia daqueles jogadores. Reforços seriam necessários para a Libertadores

No final do ano de 2010, Paulo Odone voltou à presidência. Vários contratos de jogadores importantes da equipe principal estavam por vencer, mas a diretoria tinha outra prioridade: Ronaldinho Gaúcho. O clube voltou todos os seus esforços para negociar com o irmão e empresário do jogador, Assis, que mais uma vez nos enrolou e nos deixou a ver navios.

Não bastasse isso, Jonas foi embora ainda antes do começo da Libertadores. Uma das condições que o jogador e seu irmão e empresário impuseram à direção do Grêmio em 2010 para a renovação do contrato foi uma multa rescisória baixíssima. Quando a dupla foi negociar com a nova diretoria do Grêmio, lhes foi dito que deveriam esperar até que a negociação de Ronaldinho fosse concluída. Pois bem, após o furado negócio com o ex-craque, Jonas pagou sua própria multa rescisória e se transferiu para o Valencia, clube espanhol.

Sem Jonas, Diego Clementino virou titular. O jogador, claramente sem qualidade para executar tão importante papel, se esforçou, mas não durou muito ao lado de André Lima. Com Borges recuperado, Renato optou por jogar com dois centroavantes. O esquema não teve muito tempo para dar certo, já que André Lima também se lesionou.

As contratações feitas por Odone e Antônio Vicente Martins foram insignificantes. Lins, atacante vindo do Criciúma, aposta que até agora não vingou. Vinícius Pacheco, que tem qualidade suficiente só para ser um reserva razoável. Escudero, jogador que já foi grande promessa argentina, mas que se perdeu na carreira, e que até agora não recebeu oportunidades suficientes. Carlos Alberto, cujo futebol inexiste desde sua passagem pelo Porto, veio ao Rio Grande do Sul só para nos envergonhar: brigas, pífias atuações, uma ativa vida noturna, tudo isso recheou a curta passagem dele por aqui. O único jogador decente que veio foi Rodolfo, embora até agora ele não tenha jogado tão bem quando se esperava.

O Grêmio durante esse primeiro semestre ainda não conseguiu repetir o padrão de atuação do final do campeonato brasileiro passado. A saída de dois jogadores não justifica isso. Fábio Santos era um lateral apenas razoável e Jonas, por mais que fosse um goleador, não é insubstituível. O grande problema aqui foi a ineficiência da direção em reforçar adequadamente o time.

Claro que tivemos grandes problemas com lesões. Isso é verdade. Este último jogo é um exemplo disso. Sete jogadores ausentes por lesão. Claro que fica difícil para qualquer treinador do MUNDO manter o padrão de um time tendo essa quantidade de desfalques. Nem mesmo um time poderoso como o Barcelona conseguiria.

A questão dessas lesões, bem como um decréscimo no preparo físico da equipe eu atribuo à saída de dois membros que eram fundamentais na equipe técnica do clube: Paulo e Anderson Paixão. A queda no rendimento físico da equipe me parece óbvia. Um ótimo começo para nossa diretoria, não é mesmo?

Bem, o ano começou preocupante. Atuações fracas unidas a uma má organização defensiva levaram a “fortes emoções”. Uma classificação complicada na pré-Libertadores e uma primeira fase deprimente foram a conseqüência disso.

Apesar da vitória no primeiro turno do campeonato gaúcho, o time ainda não havia tido uma boa atuação no ano. Talvez a única partida aceitável tenha sido contra o Junior de Barranquilla no Olímpico. Porém o último jogo da primeira fase foi um balde d’água nas esperanças tricolores: levar três a zero do ridículo e já eliminado Oriente Pretrolero.

Renato, nas últimas semanas, sempre se exibe com um semblante cansado e desmotivado. Apesar de seus discursos, nos quais tentou defender seu grupo de jogadores, sua insatisfação com o material humano que têm em mãos me pareceu óbvia. Porém, há coisas que devem ser colocadas na culpa dele. Sua insistência com Gilson, Rafael Marques e Carlos Alberto, por exemplo. Ou, ainda, a insistência com um esquema tático que já não estava mais funcionando.

Sem ter as peças necessárias, Renato manteve a estrutura de meio-campo que lhe rendeu a vaga na Libertadores. O problema é que toda vez que Lúcio saía do time, o meio de campo não funcionava. E vamos ser sinceros: Lúcio é um bom jogador, muito importante taticamente, mas não é nenhum craque. Este é um sintoma preocupante.

As atuações de nossa defesa foram igualmente ruins às da defesa colorada. O número de gols em jogadas aéreas é alarmante. Para não dizer na infinidade de bolas enfiadas nas costas do lateral esquerdo, indiferente de qual jogador estivesse atuando na função. A queda de rendimento de Gabriel também enfraqueceu o setor direito, tanto defensiva quanto ofensivamente.

O drama do primeiro jogo contra a Universidad Católica é um aviso do que pode estar por vir neste ano, caso o time não seja reforçado. A expulsão de Borges foi um ato infantil, e ainda permanece sem explicação. Juntando esse fator com suas fracas exibições, sua relação com a torcida ficou estremecida. E depois do último GreNal, no qual além de novamente não marcar gols, perdeu um pênalti de uma forma patética. Não quero dizer que ele é um mau caráter, mas um jogador com sua categoria no quesito cobrança de pênaltis normalmente não perde uma daquela maneira. Imagino que Borges será dispensado em breve.

No jogo da volta contra a Católica, tivemos apenas 17 jogadores. E o grupo que foi pra lá deve ser isentado da eliminação. O time lutou e fez tudo o que pôde. Não é culpa deles se, em sua grande maioria, não têm qualidade suficiente para vestirem a camisa do Grêmio. A culpa também não deve ser credita ao Renato, que apesar dos equívocos e erros, vêm tentando fazer o que dá pra se fazer.

A maior culpada desse primeiro semestre frustrante é a direção do clube. Assim como no caso do Internacional, os cartolas não souberam contratar. Formaram um grupo inchado em quantidade e esvaziado em qualidade. Agora estamos pagando o pato por isso. Paulo Odone precisa parar de usar o Grêmio como máquina eleitoral e começar a reformular sua forma de gestão.

Pensando num balanço mais geral da dupla até agora, devo dizer que ambos os clubes vivem situações diferentes.

No Internacional, o maior problema, pelo que me parece, vendo tudo de fora, é a indolência do grupo de jogadores. Mas acho que esse tipo de coisa é até natural, sabem? Se pensarmos nos clubes brasileiros vencedores dos últimos tempos, o único que conseguiu repetir seu sucesso durante mais de uma temporada mantendo o mesmo elenco foi o São Paulo de Muricy Ramalho, que venceu o Brasileiro três vezes seguidas.

Essa acomodação dos jogadores que já se consagraram é problemática e tem me parecido clara no grupo do Internacional. Parece-me que falta motivação ao plantel colorado. E antes que falem qualquer coisa, vou deixar claro: acho um absurdo uma pessoa que ganha mais de dez mil reais por mês pra fazer o que gosta diga que não está motivada. E o caso dos jogadores colorados é ainda mais dramático, já que eles ganham MUITO mais que dez mil reais.

No lado do Grêmio, as dificuldades são administrativas. O clube se focou durante muito tempo em pagar dívidas e abdicou de formar grandes times. Além do mais, parece que a instituição não conseguiu se adequar à Lei Pelé. Desde que a mesma foi aprovada, o Grêmio perdeu diversos jogadores promissores por não saber lidar com a nova realidade que se apresentava ao clube.

Em ambos os casos, porém, quem deve ser culpado nesse momento são os presidentes e diretores de futebol. As péssimas escolhas feitas por estes homens que estão à frente do comando de nossos clubes do coração têm dificultado a nossa vida. Nós, torcedores, devemos cobrar nossos mandatários por resultados, contratações e melhores exibições. Mas tudo deve ser feito sem violência, é claro.

Um abraço a todos,

Ismael Calvi Silveira.


P.S.: o texto foi originalmente escrito logo após as eliminações na Libertadores, mas acabei esquecendo de postá-lo antes, por isso pode soar meio desatualizado.

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